“Crise de Valores” – por Natanael Zanatta
Há muito tempo, não é novidade pra ninguém, que estamos vivenciando uma revolução no comportamento humano; e esta revolução acabou atacando os sentimentos mais básicos para a existência da paz nas relações humanas: falo de “valores”.
Não se engane: não estamos tratando de dinheiro; e sim dos sentimentos que se nutrem por outras pessoas. Valores que se aprendem em casa, desde sempre; sentimentos que devem ser nutridos por todas as pessoas e que acabam se mostrando a partir de comportamentos (já dizia a Xuxa em um de seus trabalhos: desculpa, por favor, com licença e obrigado, palavrinhas mágicas), e daí por diante o respeito e admiração. Esse tipo de “coisa” parece que não importa mais, a não ser quando é necessário acalmar a consciência por um erro cometido; ou por vários. Vejamos um exemplo?
Há poucos dias um vigilante ateou fogo em si mesmo dentro de uma escola municipal de educação infantil (creche). Várias crianças estavam lá, sendo que alguns daqueles pequenos anjos acabaram morrendo por conta do incêndio causado pelo suicida. Uma das professoras, a Professora Heley de Abreu, teve 90% de seu corpo queimado ao entrar em luta corporal com o homem que estava ateando fogo, para poder salvar seus pequenos alunos. Por conta de seu quadro, a professora Heley acabou se juntando aos seus pequenos anjos na outra vida; não resistiu aos ferimentos e faleceu.
Foi então que o Presidente Michel Temer concedeu à Professora Heley a Ordem Nacional do Mérito, uma condecoração que homenageia “cidadãos brasileiros que tenham prestado serviços relevantes à nação brasileira”. Com o devido respeito à decisão, e a memória da professora, acredito a concessão desta “medalha” é a prova de que os valores da nossa sociedade são fracos, cada vez mais opacos, a ponto de não passaram de uma pequena “névoa de nada”.
Por que a professora teve de morrer para ter reconhecido que seus serviços eram relevantes para nação? Aquela mulher entregava todos os dias um pedaço da sua vida, do seu tempo, da sua educação para compartilhar com aqueles pequenos anjos que estavam aos seus cuidados; mesmo com remuneração pífias dadas para os profissionais educadores, mesmo com a falta de segurança, a precariedade de insumos e materiais, ela se dirigia corajosamente ao seu trabalho para cumprir com sua vocação. Ela foi uma heroína enquanto viva, mas recebe um reconhecimento somente depois que morre.
No filme “O Último Samurai”, de 2003, o personagem principal é questionado pelo Imperador a respeito do Samurai que dá nome ao filme, e que havia morrido em batalha em defesa de valores e do império Japonês, da seguinte forma: -Conte-me como ele morreu? Ao que responde o Capitão representado por Tom Cruise: – Não vou lhe contar como ele morreu; vou lhe falar como ele viveu!
Quiçá a morte da Professora Heley desperte a urgência que temos em voltar aos valores de que tanto precisamos para viver. Respeito, disciplina, ordem, altruísmo, solidariedade, honestidade são matérias universais, fonte de vida em comunidade. Não esperemos a morte para apreciar o exemplo; não foi a Morte da Professora Heley que a fez um exemplo, e sim a sua vida. Por isso, que não falemos sobre como ela morreu, e sim sobre como ela sempre viveu.
Natanael Zanatta é Advogado Trabalhista, palestrante e professor da Lume Centro de Educação Profissional.